Categorias

Logo Site
Início » Releitura da Última Ceia com negra no lugar de Jesus é censurada em mostra no RJ para ‘não manchar nome da instituição’, diz artista

Releitura da Última Ceia com negra no lugar de Jesus é censurada em mostra no RJ para ‘não manchar nome da instituição’, diz artista

Pintura de Elvira Freitas Lira também tem apóstolos representados por mulheres pretas. Moldura vazia da obra está exposta no Centro Cultural Correios do Rio de Janeiro.

by redacao

Uma releitura do famoso quadro de Leonardo Da Vinci “A Última Ceia”, produzida por uma artista pernambucana, foi impedida de ser exibida na exposição “O que te faz olhar para o céu?”, em cartaz no Centro Cultural Correios no Rio de Janeiro até o dia 31 deste mês.

A imagem assinada por Elvira Freitas Lira, natural de Arcoverde, no Sertão de Pernambuco, representa os apóstolos nas figuras de mulheres e pessoas negras. No centro da tela, no lugar da imagem clássica de Jesus Cristo, aparece uma figura feminina, de pele escura, cabelos longos e chagas nas mãos.

A artista fez um desabafo sobre a exclusão de sua tela, sob justificativa de “preservar a imagem da instituição”, da mostra para a qual foi convidada.

“Acho [que a tela foi vetada] pelo fato de ser uma mulher ou um gênero não definido ali no centro. […] Fico indagada porque é um quadro com tantas reproduções dessa cena. Essa obra é uma intervenção numa impressão de quadro da Santa Ceia onde os homens são muito brancos”, comentou Elvira, em entrevista ao g1.

No lugar da pintura, está sendo apresentada ao público do Centro Cultural dos Correios do Rio de Janeiro uma moldura vazia, com a manutenção dos créditos da obra original.

Para ela, entre os motivos que levaram o Centro Cultural dos Correios a retirar a tela da exposição, pode estar o incômodo causado pela representação de Jesus como uma pessoa do gênero feminino; e apontou que outras releituras já feitas fogem do padrão adotado por Da Vinci em sua obra original.

Segundo Rodrigo Franco, a tela foi barrada após as imagens das obras que fariam parte da exposição serem enviadas para a gestão do Centro Cultural dos Correios do Rio de Janeiro, durante uma conversa sobre a classificação indicativa de idade para acessar a mostra.

Nesta conversa, Franco foi informado que a releitura da Santa Ceia de Elvira Freitas Lira deveria ser submetida a uma avaliação do Centro Cultural dos Correios de Brasília. “(…) eles viram algumas obras e chamaram a atenção e falaram: ‘precisamos submeter isso a Brasília’. Foi nesse momento somente, que não é uma etapa específica, não é uma etapa institucionalizada; fui de forma voluntária e enviei para os Correios”, contou

Rodrigo Franco acrescentou que a concepção das obras de arte escolhidas para exposição faz parte de um contexto cultural e artístico que não é representado apenas por um quadro, mas com toda a narrativa da mostra.

“A obra precisa ser interpretada dentro de um contexto cultural e artístico que é fundamental para a mensagem que eu buscava transmitir para o público, não só com essa obra, mas com a exposição em si. Como ela foi uma análise apenas da imagem, fora de um contexto, acho que faltou essa contextualização para o plano de entendimento da intenção da obra”, explicou Franco.

Mesmo chateada com a situação, Elvira Lira contou ao g1 que preferiu aceitar o cenário e só desabafou sobre caso nas redes após receber mensagens de apoio de pessoas próximas. De acordo com a artista, sua pintura foi inspirada nas diversas obras religiosas com as quais teve contato durante sua infância em Arcoverde, “sem a proposta de causar polêmica”.

“Acho que a minha pintura não tem uma pretensão exatamente política. […] Para mim, minhas pinturas são pinturas de amor. Fiz uma exposição individual em São Paulo, um andar inteiro; essa foi a obra que escolhi para fazer minha única performance na vida. […] Por isso também fiquei triste; porque é uma obra que pretendia mostrar mais, sabe?”, lamentou Elvira.

Por Iris Costa, g1 PE

Foto: Elvira Freitas Lira/Divulgação

Compartilhar:

Posts relacionados