A Polícia Federal desmantelou um esquema familiar milionário que atuava na fraude de concursos públicos no sertão da Paraíba, conhecido como a “Máfia dos concursos”. Segundo a investigação, o grupo cobrava até R$ 500 mil por vaga e burlava sistemas de segurança das bancas organizadoras por meio de dublês, pontos eletrônicos implantados cirurgicamente e acesso antecipado aos gabaritos.
Como começou a investigação
As apurações tiveram início após uma denúncia anônima que apontava um núcleo familiar em Patos (PB) suspeito de vender respostas de concursos de grande porte. A Polícia Federal analisou os gabaritos do Concurso Nacional Unificado (CNU) de 2024, obtidos junto à Fundação Cesgranrio, e encontrou coincidências estatisticamente impossíveis: candidatos com respostas idênticas, incluindo erros, mesmo em versões diferentes das provas.
Com as fraudes técnicas confirmadas, a PF passou a investigar a estrutura financeira da quadrilha. Relatórios apontam que os pagamentos eram feitos após a aprovação ou posse, muitas vezes disfarçados em transações com veículos, imóveis, ouro e até procedimentos odontológicos. Um exemplo citado foi a compra de uma motocicleta em nome de terceiros, cinco dias após uma prova da Caixa Econômica Federal.
O COAF identificou depósitos suspeitos em espécie, como os R$ 419 mil de Geórgia Neves, mãe de Larissa Neves e esposa de Antônio Limeira, levantando suspeitas de lavagem de dinheiro. O grupo também utilizava laranjas para movimentar recursos e ocultar os reais beneficiários.
Operação Última Fase
Com provas técnicas e financeiras consolidadas, a PF obteve autorização judicial para buscas, interceptações telefônicas e quebra de sigilos bancário e telemático. Uma ação controlada permitiu monitorar Antônio Limeira durante o concurso da Polícia Federal, confirmando a atuação do grupo.
A operação, deflagrada em 27 de julho de 2025, cumpriu mandados em vários estados, com apreensão de celulares, computadores, documentos e um cofre. As fraudes identificadas abrangem concursos entre 2015 e 2025, incluindo a Caixa Econômica, Polícia Científica de Alagoas e Polícia Civil de Pernambuco.
Estrutura da quadrilha
O relatório da PF aponta Wanderlan Limeira de Sousa, ex-policial militar expulso em 2021, como líder do esquema. Outros membros incluem familiares e pessoas próximas: filho, irmãos, cunhada, sobrinha e conhecidos. Os métodos incluíam:
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Pontos eletrônicos implantados cirurgicamente, para comunicação durante provas;
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Dublês que realizavam provas em nome de candidatos;
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Transferências financeiras suspeitas controladas por intermediários como Thyago José de Andrade.
Principais investigados
Entre os nomes citados estão:
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Ariosvaldo Lucena de Sousa Júnior – policial militar e dono de clínica odontológica suspeita de lavagem de dinheiro;
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Larissa Neves, Antônio Limeira e Georgia Neves – familiares envolvidos na movimentação financeira;
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Thyago José de Andrade e Laís Giselly Nunes de Araújo – intermediários e possíveis beneficiários;
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Luiz Paulo Silva dos Santos – suspeito de envolvimento em mais de 67 concursos.
Segundo a PF, nenhum dos investigados havia tomado posse nos concursos fraudulentos. A Operação Última Fase resultou na prisão preventiva de três pessoas, duas em Recife (PE) e uma em Patos (PB).
Posicionamentos das defesas
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Ariosvaldo Lucena nega qualquer envolvimento e afirma que as acusações se baseiam apenas em indícios.
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Antônio, Larissa e Georgia Neves afirmam que colaborarão integralmente com a investigação, sem denúncias formais até o momento.
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Thyago e Laís ressaltam que estão na fase de investigação e defendem sua inocência.
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Wanderlan e Valmir Limeira aguardam acesso completo aos autos para se manifestarem oficialmente.
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Wanderson Gabriel de Brito Limeira critica o “linchamento público” da imprensa antes do trânsito em julgado, defendendo o direito à ampla defesa e presunção de inocência.
Nota do Ministério da Gestão e Inovação
O Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos informou que acompanha as investigações e que todas as medidas de segurança foram reforçadas no CNU 2025, realizado no último domingo (5).