Três dias após o anúncio do Prêmio Nobel da Paz 2025 para a venezuelana María Corina Machado, o governo brasileiro e o Itamaraty seguem sem qualquer manifestação oficial sobre o tema. A líder opositora, conhecida por sua resistência ao regime de Nicolás Maduro, dedicou o prêmio ao ex-presidente norte-americano Donald Trump e deve receber a honraria de forma clandestina, já que vive escondida na Venezuela.
Machado, que defende uma intervenção militar dos Estados Unidos como forma de derrubar o regime chavista, já foi alvo de críticas do Partido dos Trabalhadores (PT). Durante a campanha presidencial de 2024, chegou a pedir uma audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas não foi recebida.
A indicação de María Corina ao Nobel partiu do então senador republicano Marco Rubio, atual secretário de Estado dos EUA. Impedida de disputar a eleição presidencial de 2024 pelo Conselho Nacional Eleitoral venezuelano, dominado pelo chavismo, ela articulou a candidatura do diplomata Edmundo González Urrutia, que acabou exilado após denunciar fraude no pleito.
Com perfil liberal-conservador e pró-mercado, Machado é uma das vozes mais duras da oposição a Maduro. Desde o início dos anos 2000, tem papel de destaque em movimentos contrários ao chavismo, como a ONG Súmate, que organizou o referendo revogatório contra Hugo Chávez em 2004.
Sua postura rígida, entretanto, divide a oposição venezuelana: críticos a acusam de radicalizar o discurso e dificultar tentativas de negociação com o regime. Em 2013, ela foi preterida nas primárias da coalizão Mesa de Unidade Democrática (MUD), quando Henrique Capriles assumiu a candidatura presidencial.
Silêncio diplomático brasileiro
Apesar da repercussão internacional da premiação, o governo Lula optou por manter silêncio. Nenhuma nota foi divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores, e o presidente não se pronunciou sobre a escolha do Comitê Nobel.
Enquanto isso, María Corina já recebeu um telefonema de Donald Trump e manifestações públicas de apoio de ex-presidentes e líderes da América Latina. No Brasil, Michel Temer a parabenizou:
“Faço chegar à María Corina meus cumprimentos e meus parabéns pela outorga do Nobel da Paz, muito merecido pelo que ela fez pela democracia na Venezuela, dando um exemplo para o mundo.”
Em contraponto, o assessor especial da Presidência, Celso Amorim, avaliou que o Nobel “priorizou a política em relação à paz” ao escolher Machado.
A presidente do México, Claudia Sheinbaum, seguiu linha semelhante e limitou-se a publicar um “sem comentários” nas redes sociais.
Já os líderes Miguel Díaz-Canel (Cuba) e Evo Morales (Bolívia) criticaram abertamente a decisão do Comitê Nobel.