Estudantes da Escola de Referência em Ensino Médio (Erem) Ageu Magalhães, em Casa Amarela, Zona Norte do Recife, passaram mal na tarde desta sexta-feira (8).
Com falta de ar, tremor e crise de choro, os alunos foram socorridos pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que informou que 26 alunos tiveram “crise de ansiedade”. Nenhum deles precisou ser levado para o hospital.
Por nota, o Samu informou que 16 profissionais em seis ambulâncias e duas motocicletas foram mobilizados para o atendimento:
“Os jovens apresentaram sudorese, saturação baixa e taquicardia, foram atendidos no local e não precisaram de remoção para unidades de saúde”, informaram profissionais do SAMU.
Especialista explica
A psicóloga Anna Paula Avelar, professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), disse que é impossível não relacionar o que aconteceu na escola com a pandemia da Covid-19.
Para ela, alguns fatores “encadeados” podem ter servido de motivo para que os estudantes tivessem crise de ansiedade.
“Um gatilho acionou uma crise de ansiedade coletiva. Em qualquer situação de crise social muito severa, isso pode acontecer. Essa volta às escolas foi como se tivesse sido um período de férias, mas não foi. Foi uma parada grave, uma crise social grave. Então, não existe um fator único”, detalhou a psicóloga.
Anna Paula lembrou que os alunos voltaram a estudar presencialmente após muito tempo tendo aulas e provas remotas e que eles voltaram a ter as mesmas cobranças de antes da pandemia.
“Essa volta não foi gradual e essas cobranças não foram graduais. Alguma situação específica pode funcionar como um gatilho. Vivemos uma pandemia e esses estudantes voltaram a ter aulas e serem cobrados como antes, após quase dois anos fortemente privados desse convívio social”, disse Anna Paula.
A psicóloga afirmou que crises de ansiedade como a vivenciada por alguns dos estudantes servem de alerta. Ela ressaltou que é preciso escutar os sinais que o corpo dá.
“Pode acontecer em outros momentos, em outras situações, não só na escola, mas também no trabalho e em outros lugares. A ansiedade, o pânico, tudo isso, é um sinal que o corpo dá de sofrimento psíquico”, explicou a profissional.
O que diz a secretaria
Por nota, a Secretaria de Educação e Esportes informou que os estudantes receberam atendimento médico na unidade escolar e foram liberados após a chegada dos responsáveis.
A secretaria acrescentou que a escola realiza um trabalho voltou a educação socioemocional dos alunos, incluindo a orientação dos jovens e dos responsáveis sobre o tema.
Saúde mental
Em relatório divulgado em outubro de 2021, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) projetou que crianças, adolescentes e jovens podem sentir o impacto da Covid-19 na saúde mental e bem-estar por muitos anos. Ainda segundo a instituição, essa parcela da população já carregava problemas emocionais.
O Unicef também apontou que, globalmente, mais de um em cada sete garotos e garotas entre 10 e 19 anos vivem com algum transtorno mental diagnosticado. De acordo com a entidade, a ruptura com as rotinas, a educação, a recreação e a preocupação com a renda familiar e com a saúde deixaram muitos jovens com medo, irritados e preocupados com o futuro.
O que dizem os pais
“Minha filha saiu da escola com uma amiga. Ela disse que o cenário era de filme de terror, com correria e tumulto. Já no ônibus, ela me ligou dizendo que tinha deixado a escola e estava indo para casa”, contou o pai, que preferiu não se identificar.
“Os alunos combinaram de esperar acalmar, mas aí o desespero tomou conta da maioria porque eles tinham medo de que fosse algo mais grave”, disse a mãe de uma das alunas da escola.
A crise de ansiedade desencadeou uma reação em cadeia que atingiu várias turmas da escola. Em poucos minutos, alunos de outras salas de aula começaram a gritar, e seus gritos podiam ser ouvidos pelos corredores, segundo estudantes que presenciaram o ocorrido.
Retorno dos alunos
A Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco informou que o retorno acontece, normalmente, nesta segunda-feira (11), mas que as provas que não foram realizadas na sexta-feira (8) serão remarcadas.
O governo estadual também declarou que a escola realiza um trabalho voltado à educação emocional dos alunos, incluindo orientações dos jovens e dos responsáveis deles sobre esse tema. Ainda por nota, informou que os estudantes receberam atendimento médico na unidade escolar e foram liberados após a chegada dos parentes.