Em Pernambuco, uma nova geração de prefeitos parece mais preocupada com a performance diante das câmeras do que com a gestão pública em si. O fenômeno, que mistura vaidade política, redes sociais e uma crescente intolerância ao contraditório, tem se espalhado pelo estado — e os exemplos mais recentes acendem um alerta.
Em Garanhuns, o prefeito Sivaldo Albino protagonizou uma das maiores polêmicas em torno do Festival de Inverno. A tradicional celebração cultural foi, segundo muitos, descaracterizada por uma grade de atrações que pouco dialogam com a história do evento. Uma política de “pão e circo” que tem privilegiado o apelo populista em detrimento da identidade do FIG.
No último episódio, Albino subiu ao palco ao lado do cantor MC Anderson Neiff, conhecido pelas letras ofensivas e de cunho violento. O momento virou pauta nas redes: sob uma enxurrada de palavrões, o prefeito foi chamado de “gostoso” pelo artista — cena que, longe de ser espontânea, pareceu cuidadosamente ensaiada para gerar repercussão e capital político.
Enquanto isso, artistas que ousam tecer críticas são rapidamente descartados. Foi o caso de Zeca Baleiro, que apenas pontuou a distância do palco para o público, algo que destoava do habitual no evento. A resposta do prefeito veio em tom ríspido, insinuando que o cantor não retornará mais ao FIG. Já Neiff, este sim, está garantido para o próximo ano.
Em Caruaru, a situação não é muito diferente. O prefeito Rodrigo Pinheiro também coleciona episódios de atritos com artistas e a imprensa. Após desentendimentos, o grupo Fulô de Mandacaru foi riscado da programação junina. Por outro lado, MC Anderson Neiff — novamente ele — já está confirmado para o São João de 2026. A tradição deu lugar ao espetáculo midiático, onde o palco virou vitrine de vaidades.
Rodrigo Pinheiro também entrou para a história como o primeiro gestor a proibir uma emissora de cobrir os bastidores dos camarotes, por discordar da linha editorial do veículo. Em outra cidade, há relatos de prefeitos que tentaram negociar o “tom” da cobertura jornalística, oferecendo benefícios em troca de silêncio — um retrocesso assustador em pleno 2025.
O avanço desse modelo personalista de gestão é facilitado por dois fatores: a aceitação passiva da população diante da política de entretenimento fácil e a ausência de ações firmes de órgãos como o Ministério Público e o Tribunal de Contas. As denúncias sobre a presença de prefeitos nos palcos, transformando eventos públicos em palanques eleitorais, se acumulam — mas raramente resultam em medidas concretas.
Estamos diante de uma inversão preocupante: prefeitos que se comportam como celebridades, festas que perdem suas raízes e uma cultura sendo moldada conforme os interesses de quem está no poder. O palco é deles, mas o preço é pago por toda a sociedade.
Fonte: Nill Júnior